“Que bem que canta esta senhora. Tem uma linda voz. Ouvia-a aqui a cantar há mais ou menos um ano e nunca mais a esqueci. Gosto muito disto”. Ainda o espetáculo não tinha começado e Maria Augusta que completa no próximo dia 9 de novembro, 88 anos de idade, já ia cantarolava algumas melodias. A tarde chega e na sala de convívio do Centro Social e Paroquial de Ribeirão já há poucas cadeiras vazias, tudo se prepara para receber o projeto municipal “Tardes de Outono".
A senhora a quem se refere Maria Augusta é uma das vozes do grupo musical Pedra d’Água que, no âmbito do projeto, vai proporcionar aos cerca de 80 utentes da instituição uma tarde diferente, com muita música, alegria, convívio e grande animação.
Exibindo com orgulho uma memória que diz ser de elefante, Maria Augusta vai desfiando histórias de vida. A música começa e pára tudo! “Isto é uma festa, se as pernas acompanhassem a cabeça dançava a tarde inteira”, exclama visivelmente feliz. Com seis filhos e doze netos, Maria Augusta tem “vaidade nas boas memórias” que guarda com uma lucidez invejável e que faz questão de demonstrar. “Vivi 18 anos na Alemanha, foram tempos difíceis, tinha saudades do meu país e de ouvir estas músicas”, refere acrescentando pormenores de que se lembra “como se fosse ontem”. A conversa podia durar a tarde inteira, desde que obrigatoriamente intercalada pelas músicas que Maria Augusta continua a cantarolar.
“Tardes de Outono” é o nome do projeto sénior promovido pela Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão que arrancou em 2014 e que, desde então, já percorreu várias dezenas de instituições sociais do concelho, através da organização de cerca de 20 sessões anuais, 80 no total, chegando a um universo de quase mil seniores.
Realiza-se durante os meses do outono e conta com a animação dos grupos Pedra d’Água, Novo Rumo e Tusefa.
Para o Presidente da Câmara Municipal, Paulo Cunha, “este programa surgiu com o objetivo de proporcionar aos nossos idosos momentos de alegria, convívio e afetos, sem saírem das instituições. Sabemos que muitas pessoas têm dificuldades em deslocar-se e por isso levamos a animação até eles, oferecendo-lhes momentos diferentes que os façam felizes”, explica.
E enquanto os Pedra d’Água iam entoando temas como Laranja da China (Alentejo); Farol de Montedor (Alto Minho) ou Alecrim (Minho), José Azevedo de 81 anos, ia acompanhando os tons das melodias bem baixinho. “Conheço estas músicas todas e se fosse ali para a frente cantar também não fazia má figura”, salienta entre risos. “Estou neste centro há 16 anos e estas são as tardes que mais gosto”.
São as “Tardes de Outono”, quando o Sol se põe mais cedo e a brisa que sopra fresca vai arrancando as folhas das árvores, trazendo à memória um sentimento de nostalgia de tempos passados.
Até ao final do Outono, mais uma dezena de centros sociais do concelho vão receber estas tardes de grande animação e alegria.