“A memória imposta à morte”. É esta a ideia que está na base da conceção da nova escultura do Parque da Devesa, criada a partir de um sobreiro morto pelo arquiteto Gonçalo Nunes de Andrade, e cuja apresentação pública aconteceu na sexta-feira, 28 de outubro, com a presença do autor e do Presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão, Paulo Cunha.
“Memória Inscrita” inscreve a memória de um sobreiro com cerca de 50 anos na paisagem do Parque. “Todos temos memórias de árvores que tiveram significado para nós, aqui procurou-se perpetuar essa memória através de trechos metálicos que configuram um perfil desta árvore de forma incompleta tal e qual as memórias que conservamos na nossa mente. A memória ganha aqui também uma dimensão de oposição à morte, a memória como o perpetuar da vida”, explica o autor.
Situada no ponto mais alto do Parque da Devesa, junto a uma das entradas do parque, a obra apresenta-se também como “uma espécie de prolongamento da vida enquanto evolução de um corpo físico”, diz Gonçalo Nunes de Andrade. E pormenoriza: “Enquanto viva a árvore crescia, evoluía e todos os anos adquiria um registo diferente. Agora na morte através da evolução da decomposição a árvore vai continuar a evoluir a apresentar registos diferentes até que fica apenas a sua memória inscrita.”
“É um novo motivo de interesse, a juntar a muitos outros, para as pessoas visitarem e desfrutarem do Parque da Devesa. A presença de obras de arte, perfeitamente integradas na harmonia da natureza, é um reforço à imagem do parque enquanto espaço de contemplação e de reflexão, que também o é”, refere Paulo Cunha.
Gonçalo Nunes de Andrade é arquiteto paisagista, exercendo funções de professor convidado na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, desde 2007, onde investiga em áreas diversas como Gestão Urbana de Drenagem Sustentável, Serviços ecossistemáticos, Gestão e eficiência de espaços Verdes, Património e Paisagem urbana. É também fundador da Xscapes, Sociedade de Arquitectura Paisagista.
Recorde-se que esta não é a primeira escultura do parque nascida a partir da morte de uma árvore. No ano passado, o artista plástico Isaque Pinheiro apresentou a peça “Rebater uma árvore”, que consistiu na transformação de um carvalho morto com cerca de 110 anos de idade. O próprio autor do projeto do Parque da Devesa, Arq. Noé Dinis, iniciou esta prática do Parque da Devesa de prolongar a vida das árvores do parque para além da sua morte com a criação do Caminho das Árvores Pintadas aquando a construção do parque, em 2012, que integra um conjunto de três troncos de choupos multicoloridos que são uma das imagens fortes do Parque.