O artista de circo canadense, Ezra Weill, terminou, na passada sexta-feira, a sua residência artística nas instalações do Instituto Nacional de Artes Circenses, em Vila Nova de Famalicão. Ao longo de cerca de um mês, Ezra Weill do Circo Natural da América desenvolveu todo o processo de criação artística da nova peça que levará a cena a vários países do mundo, durante o verão. As residências artísticas são apenas uma das múltiplas facetas do trabalho desenvolvido pelo INAC que tem como primeira missão formar artistas, capazes de uma abordagem pluridisciplinar que assegure o surgimento e a afirmação das novas estéticas.
A dinâmica que a escola de circo tem trazido ao concelho de Vila Nova de Famalicão nos últimos meses, acolhendo não só artistas de circo internacionais para a realização de residências artísticas, mas também alunos de vários países do mundo justificou a visita que o presidente da Câmara Municipal, Paulo Cunha, realizou à instituição na passada sexta-feira, incluindo-a no Roteiro pela Inovação. “Vila Nova de Famalicão entrou definitivamente na rota internacional da criação da arte circense e isso deve-se ao trabalho que está a ser desenvolvido aqui no INAC”, afirmou o autarca que foi surpreendido pela apresentação, em primeira mão, de um trecho do espetáculo de Ezra Weill, ficando completamente rendido à criatividade do artista.
“Estas residências artísticas funcionam, acima de tudo, como um espaço de partilha entre artistas, mas também são uma forma de intercâmbio com os artistas a darem aulas aos nossos alunos e participarem do trabalho que estamos a desenvolver”, explicou Bruno Machado, diretor do INAC.
O INAC surgiu, em 2015, na Maia, da necessidade de formar artistas e criar o seu próprio espaço em Portugal, mas foi em Famalicão que encontrou o terreno fértil para germinar. “Tínhamos a ambição de vir para Famalicão porque existe aqui um centro culturalmente muito forte e em crescimento com escolas de teatro, como o ACE, e de música como a Artave e como trabalhamos todas as áreas cénicas e performativas, faz todo o sentido trabalhar com estes parceiros”, explicou Bruno Machado.
Por sua vez, o presidente da Câmara Municipal elogiou o trabalho desenvolvido pelo INAC, “um projeto diferente e diferenciador, que rompe com uma visão clássica da arte circense, colocando-a no contexto contemporâneo”.
“Queremos potenciar todos os eventos e manifestações culturais não só na ótica recreativa e formativa, mas também na ótica profissional”, salientou Paulo Cunha, reforçando a convicção de que o conceito de indústria criativa não está ligado só ao que é clássico e convencional. “A Cultura há-se ser cada vez mais uma ferramenta ao serviço da criação de riqueza, do produtividade e da empregabilidade”, acrescentou.
A única escola de circo contemporâneo do Norte do país conta atualmente com um corpo docente com formação em artes circenses e com cerca de 30 alunos oriundos de Espanha, França, Costa Rica, Finlândia e Colômbia entre muitos outros que frequentam o Curso Profissional de Circo, de dois anos e com uma carga de oito horas por dia. Este ano, saem da escola os primeiros artistas de circo formados, sendo que alguns vão seguir os estudos superiores, enquanto outros vão ingressar no mercado de trabalho, como trapezistas, acrobatas, malabaristas, contorcionistas, etc. As inscrições para o próximo ano letivo do curso profissional já estão abertas e as provas de acesso decorrem em maio.
“O circo saiu das tendas e veio para a escola”, explicou Bruno Machado, salientando que “tem havido um crescimento do circo contemporâneo, onde aliamos a técnica com o trabalho artístico e o trabalho de criação e pesquisa”.
Para além do Curso Profissional de Circo e das residências artísticas, o INAC tem outras vertentes nomeadamente para quem quer ter aulas regulares de circo (para todas as idades, desde o 3 anos). Em colaboração com a autarquia desenvolve o projeto de inclusão social “Um por Todos” onde trabalha com pessoas portadoras de multideficiência do concelho.
Para breve, o INAC pretende também iniciar um curso com formação de nível 4, com equivalência o 10.º, 11.º e 12.º anos. A escola tem em desenvolvimento o processo europeu de certificação, recebendo em breve a visita da Federação das Escolas de Circo que garantirá a certificação aos alunos.
O projeto integra ainda uma plataforma artística dirigida por uma companhia “Um por Um” que se dedica à criação artística, servindo também de suporte para os alunos que terminam o seu percurso formativo e não têm capacidade para criar a sua companhia.